Entenda os acrônimos que guiam a intervenção dos profissionais de saúde após uma lesão aguda
Por muito tempo, a conduta dos profissionais de saúde após uma lesão aguda seguia um mesmo padrão. Logo após um trauma, como entorse de tornozelo ou pós-operatórios de cirurgias ortopédicas os pacientes eram recomendados a realizar o PRICE. PRICE significa: (P) proteção, (R) rest/descanso, (I) ice/gelo, (C) compressão e (E) elevação. Gelo, compressão e elevação é o princípio básico do tratamento precoce, já que são medidas eficazes contra as consequências da inflamação, como o inchaço e a dor. Entretanto, com o passar dos anos observou-se que talvez o repouso não fosse a melhor medida na recuperação dos danos teciduais.
Um editorial publicado em 2012 fez uma reflexão de que o PRICE necessitaria de uma reformulação. Desta forma, surgiu o POLICE – (P) proteção, (OL) optimal loading/otimização da carga, (I) ice/gelo, (C) compressão e (E) elevação (BLEAKLEY, 2012). A carga ideal é um termo guarda-chuva para qualquer intervenção de mecanoterapia e inclui uma ampla gama de técnicas. Se o princípio primário do tratamento é restaurar as propriedades histológicas e mecânicas dos tecidos que foram lesionados, o uso de carga pode ser uma ferramenta importante para alcançar o objetivo do paciente (retorno à atividade/esporte). O desafio é determinar o que é “ótimo” em termos de natureza, volume e intensidade. Para isto, é necessário o acompanhamento de um profissional capacitado.
Há várias pesquisas que demostram que os tecidos do corpo humano ficam mais fortes ao serem trabalhados com algum tipo de carga:
– Músculos: não é segredo que quanto mais carga colocamos nos músculos, mais fortes eles ficam (SCHOENFELD, 2019).
– Ossos: ficam mais “duros” quando estão sob pressão. O treinamento de resistência demonstrou reverter a osteoporose em mulheres na pós-menopausa (GOODMAN, 2015; WATSON, 2015).
– Ligamentos: atletas de levantamento de peso possuem um ligamento cruzado anterior 2 vezes mais espesso que a média populacional (GRZELAK, 2012).
– Tendões: o treinamento resistido aumenta a espessura do tendão (MERSMANN, 2017).
– Cartilagem: Estudos com corredores (inclusive maratonistas) sugerem que a cartilagem do quadril e do joelho é mais espessa nessa população do que a média (ALENTORN-GELI, 2017; PONZIO, 2018).
– Discos intervertebrais: os corredores parecem ter discos mais espessos do que outras pessoas da mesma idade (BELAVÝ, 2017).
O sistema musculoesquelético é extremamente adaptável, ou seja, o corpo responde positivamente à carga progressiva. Não gaste muito tempo descansando, a chave do sucesso está em SE MOVER!
Por Ana Luiza Rodrigues
REFERÊNCIAS
BLEAKLEY, C. M.; GLASGOW, P.; MACAULEY, D. C. PRICE needs updating, should we call the POLICE?. 2012.
SCHOENFELD, Brad J. et al. Resistance training volume enhances muscle hypertrophy but not strength in trained men. Medicine and science in sports and exercise, v. 51, n. 1, p. 94, 2019.
GOODMAN, Craig A.; HORNBERGER, Troy A.; ROBLING, Alexander G. Bone and skeletal muscle: key players in mechanotransduction and potential overlapping mechanisms. Bone, v. 80, p. 24-36, 2015.
WATSON, S. L. et al. Heavy resistance training is safe and improves bone, function, and stature in postmenopausal women with low to very low bone mass: novel early findings from the LIFTMOR trial. Osteoporosis International, v. 26, n. 12, p. 2889-2894, 2015.
GRZELAK, Piotr et al. Hypertrophied cruciate ligament in high performance weightlifters observed in magnetic resonance imaging. International orthopaedics, v. 36, n. 8, p. 1715-1719, 2012.
MERSMANN, Falk; BOHM, Sebastian; ARAMPATZIS, Adamantios. Imbalances in the development of muscle and tendon as risk factor for tendinopathies in youth athletes: a review of current evidence and concepts of prevention. Frontiers in physiology, v. 8, p. 987, 2017.
ALENTORN-GELI, Eduard et al. The association of recreational and competitive running with hip and knee osteoarthritis: a systematic review and meta-analysis. journal of orthopaedic & sports physical therapy, v. 47, n. 6, p. 373-390, 2017.
PONZIO, Danielle Y. et al. Low prevalence of hip and knee arthritis in active marathon runners. JBJS, v. 100, n. 2, p. 131-137, 2018.
BELAVÝ, Daniel L. et al. Running exercise strengthens the intervertebral disc. Scientific reports, v. 7, p. 45975, 2017.