Entendendo a dor
Há uma deficiência muito grande em meio aos profissionais da saúde e população em geral no que diz respeito ao conceito dor em sua complexidade e aspecto multifatorial. Tendo em vista a demanda apresentada e a relação contemporânea com os avanços no conhecimento da dor foi formada pela Associação Internacional para estudos da dor (IASP) uma força tarefa para revisar a definição de dor que é presente desde 1979. Esta equipe era formada por profissionais bioeticístas, filósofos, especialistas em linguagem e especialistas no estudo da dor (Cientistas e Clínicos) e consultas de opinião da população em geral. Este trabalho de revisão teve inicio no primeiro semestre de 2018 tendo sua conclusão em Janeiro de 2020, definindo a dor como:
Uma experiência sensitiva e emocional desagradável, associada, ou semelhante àquela associada, a uma lesão tecidual real ou potencial.
Em conjunto com várias considerações dos mais renomados especialistas em dor no mundo decidiu-se fragmentar a complexa compreensão da dor em 6 notas complementares a definição, que são elas:
- A dor é sempre uma experiência subjetiva, que é influenciada em graus variáveis, por fatores biológicos, psicológicos e sociais.
- Dor e nocicepção são fenômenos diferentes; a experiência de dor não pode ser deduzida pela atividade nas vias sensoriais.
- Através das suas experiências de vida, as pessoas aprendem o conceito de dor e suas aplicações.
- O relato de uma pessoa sobre uma experiência de dor deve ser aceito como tal e respeitado.
- Embora a dor geralmente cumpra um papel adaptativo, ela pode ter efeitos adversos na função e no bem-estar social e psicológico.
- A descrição verbal é apenas um dos vários comportamentos para expressar a dor; a incapacidade de comunicação não invalida a possibilidade de um ser humano ou um animal sentir dor.
Com isso podemos observar a interação do conceito atual de dor aos aspectos biopsicossociais (biológicos, psicológicos e sociais) do ser humano, o que se coloca em cheque a abordagem profissional e o comum conhecimento da população a cerca da dor. Abordagens que visam a lesão como centro da intervenção ou raiz do problema, sustentadas e doutrinadas pelo modelo biomédico não são mais suficientes para a resolutividade na prática clínica. Contudo fica uma breve reflexão a cerca da necessidade de uma abordagem holística e multidisciplinar, principalmente ao individuo com dor crônica (aquela que se mantém durante ou mais de 3 meses).
Por Rodrigo Aryolla
REFERÊNCIA
RAJA, Srinivasa N. et al. The revised International Association for the Study of Pain definition of pain: concepts, challenges, and compromises. Pain, v. 161, n. 9, p. 1976-1982, 2020.