A maior arma contra a covid-19 é a informação! A nossa equipe preparou um texto especial para te deixar a par sobre vertentes importantes relacionadas à pandemia.
Na tarde de 8 de junho, a epidemiologista americana da Organização Mundial da Saúde (OMS) Maria van Kerkhove disse durante uma entrevista que pessoas infectadas com o vírus SARS-CoV-2, mas assintomáticas, não parecem ser um vetor importante da doença. Essa declaração estava relacionada a um estudo produzido em Cingapura e foi alvo das manchetes em todo o mundo. A fala deu a muita gente a impressão errada de que a lógica das quarentenas e lockdowns contra a COVID-19 cairiam por terra: afinal, se os assintomáticos não são contagiosos, bastaria isolar apenas as pessoas que apresentam sintomas. Por que a impressão está errada? Um pouco mais adiante na mesma fala, a epidemiologista diz: “quando revisamos e vemos quantas pessoas realmente eram assintomáticas mesmo, vemos que muitas delas, na verdade, tinham uma doença leve”. Nessa vertente vale estabelecer uma distinção crucial entre pessoas “assintomáticas” e “pré-sintomáticas” e “falso assintomáticas”.
O “assintomático” é alguém que vai passar todo o curso da doença (até a eliminação completa do vírus) sem manifestar nenhum sintoma; o “pré-sintomático” é alguém que testou positivo para o vírus, mas ainda não desenvolveu sintomas. Além disso, ainda há pessoas “falso assintomáticas” – Pacientes que desenvolveram sintomas leves (não característicos da covid-19 clássica) e que transmitem a doença e passam despercebidos. Os melhores estudos disponíveis indicam que os pré-sintomáticos, são sim, contagiosos. A única forma de distinguir estes grupos é por meio de análise histórica: esperar o vírus ser eliminado do organismo do paciente e determinar se ele teve sintomas ou não. Como não dá para prever se o sujeito será assintomático, pré-sintomático ou “falso assintomático”, em termos de quarentena, a distinção não faz a menor diferença: se o indivíduo não tem sintomas e quebra o isolamento, ele pode transmitir o vírus para outras pessoas. Portanto, não se pode afirmar que assintomáticos não transmitem. De fato, menos de 24 horas depois da coletiva original de Van Kerkhove, a própria epidemiologista veio a público afirmar que a interpretação dada a sua fala representava um mal entendido.
Na ciência, a pressa é inimiga da perfeição. Essa celeridade nos estudos científicos durante a pandemia trouxe custos científicos e informacionais. Estudos mal estruturados e com metodologias falhas, produziram resultados enganosos e conclusões equivocadas, que mal interpretados e precipitadamente publicados foram divulgados como a descoberta de uma “cura” para a doença. Um caso exemplar disso é o da cloroquina e de uma substância similar, a hidroxicloroquina. Seu uso emergencial e experimental em pacientes graves de covid-19 gerou a polêmica de que estes medicamentos antimaláricos seriam o tão buscado tratamento da doença. Para entender toda a polêmica, é necessário explicar como o vírus Sars-cov-2 (covid-19) infecta uma célula.
Existem dois meios do vírus infectar uma célula:
- Uma organela presente na membrana celular chamada lisossomo puxa o vírus pra dentro célula. Isso desencadeia um processo onde o pH da célula fica ácido. Essa acidez rompe a cápsula de gordura que envolve o vírus e, dessa forma, o RNA (DNA do vírus ou parte genética do vírus) infecta a célula.
- Outra maneira de infectar a célula é quando o vírus realiza um poro (ou buraco) na membrana celular e injeta o RNA dentro da célula.
A hidroxicloroquina age somente no primeiro caso. O uso do medicamento não deixa acontecer a alteração do pH celular – dessa forma a cápsula do vírus não se rompe e não ocorre a infecção. Entretanto, o medicamento não impossibilita o segundo meio de infecção. Ele fecha uma porta, mas deixa a outra aberta. Existem outros medicamentos sendo testados, como o Remdesivir, que age de forma diferente para bloquear a infecção. Basta a nós, aguardarmos os estudos e verificar sua eficácia.
Com os serviços não essenciais sendo liberados, as pessoas estão circulando mais nas ruas. Com isso, o número de infectados aumenta e sobrecarrega os sistemas de saúde. Além disso, o volume de testes no Brasil é muito baixo – por essa razão, não sabemos o tamanho do problema nem o ritmo de crescimento real dos casos. Portanto, é necessário que a população seja consciente e tome os devidos cuidados. Fique em casa, se puder. Se não puder, se cuide – lave as mãos, use álcool, máscara e pratique o distanciamento social. É um ato de consciência e solidariedade para com o outro.
Conte com a equipe FIBRA para esclarecer qualquer dúvida.
Por Ana Luiza Rodrigues
Referências
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