O ciclismo é uma das atividades que mais cresce em números de usuários no mundo inteiro, tendo como principais objetivos o lazer, transporte, prática esportiva e o treinamento físico.
Atualmente, no Brasil, essa atividade se encontra em crescimento exponencial, com o mercado de bikes ficando sobrecarregado devido ao grande número de novos adeptos ao esporte.
Atualmente existem diversas modalidades diferentes dentro do ciclismo, que se diferenciam de acordo com as características e modelos da bicicleta, características de percurso e terreno e também das provas. Dentre as modalidades mais praticas atualmente, o ciclismo de estrada (speed) e o Mountain Bike (MTB) são os que mais crescem em número de novos adeptos.
Assim como a maioria das atividades esportivas, o ciclismo possui uma incidência de lesões considerável. Essas lesões podem ser divididas em traumáticas, relacionadas à lesões agudas causadas por acidentes (fraturas, luxações e escoriações por exemplo) ou atraumáticas, relacionadas principalmente à sobrecargas do sistema musculoesquelético, movimentos repetitivos e postura sustentada na bike (tendinopatias, dor lombar e cervical por exemplo).
No contexto das lesões atraumáticas é importante a identificação dos fatores causais relacionados, para que ocorra uma reabilitação e prevenção efetivas. Portanto, alguns fatores importantes devem ser levados em consideração, tais como as características físicas do ciclista, ou seja, capacidades de força, mobilidade, flexibilidade, resistência, entre outras; características de ajuste da bicicleta, tais como posicionamento do selim, guidão e tacos das sapatilhas, tamanho do pedivela, formato do selim, tamanho do quadro, entre outras. Além disso, características de treinamento, como intensidade, duração, volume e frequência.
Diante disso, o Bike Fit se tornou uma avaliação essencial para tomada de decisão no contexto das medidas preventivas no ciclismo. Consiste no processo de avaliação do complexo bicicleta-ciclista, que tem por objetivo a adequação da bicicleta, por meio de ajustes de seus componentes, ao ciclista, respeitando as suas características físicas. Durante este processo, em um primeiro momento, o avaliador realiza uma entrevista com o ciclista e o questiona a respeito do histórico de lesões, características de treinamento, presença de dor, entre outros fatores. Depois disso o ciclista passa por uma avaliação de suas capacidades físicas, tais como mobilidade, força, estabilidade. Posteriormente é ajustado o posicionamento dos tacos da sapatilha, a fim de garantir uma avaliação mais fidedigna. Por fim, já em cima da bicicleta, acontece a análise biomecânica 2D ou 3D por vídeo, do movimento de pedalada. Dessa forma o avaliador consegue perceber a postura e as angulações das articulações do ciclista e quais ajustes são necessários e também quais capacidades físicas o ciclista precisa melhorar.
É muito importante que este processo seja realizado por um profissional formado, capacitado, e que tenha conhecimento sobre avaliação do movimento humano. O Bike Fit pode ser realizado antes da aquisição da bicicleta, por meio de um simulador ou bikes-modelo, para identificação do tamanho adequado do quadro, e também sempre que houver alguma mudança de componentes da bike, ou mudanças das características físicas e de treino do ciclista.
Por fim, o Bike Fit vem ganhando cada vez mais espaço no mercado e tem sido considerado por muitos especialistas e pesquisadores do ramo, avaliação “chave” no processo de prevenção e reabilitação de lesões no ciclismo, fornecendo ao ciclista mais conforto durante a pedalada e, consequentemente, maior desempenho.
Por Arthur Tavares
Referências
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